
Até que ponto o papel materno influência na construção da personalidade dos filhos? Essa é a pergunta chave que norteia o longametragem Precisamos Falar sobre Kevin. Lançado em 2011 e dirigido por Lynne Ramsay, o filme se baseia no romance homônimo de Lionel Shriver e narra a relação conturbada entre mãe e filho.
A premiada atriz Tilda Swinton, lidera no papel de Eva, uma mulher de quarenta e poucos anos, tomada por depressão e presa em uma vida medíocre. Aos poucos, flashes do passado intercalam-se com o presente e revelam os fatos que a levaram chegar àquele estado. No passado, Eva foi uma escritora independente, que viajava pelo mundo e era satisfeita com sua vida profissional e pessoal. No entanto, após o nascimento do seu primogênito tudo isso muda. Desde pequeno, Kevin apresenta comportamentos estranhos, sem motivo aparente, como perversão, egoísmo e maldade.
A preocupação constante com o filho faz Eva conversar diversas vezes com o marido, Franklin, que falha em enxergar as queixas da mulher, já que o menino se comporta de maneira totalmente diferente quando está em sua companhia. Seu casamento, assim como a vida profissional, começa a entrar em declínio, e apesar de seus esforços para construir uma boa relação com o filho, Kevin continua agindo de forma estranha.
Como que em um tentativa inconsciente de descobrir se os problemas comportamentais de Kevin têm relação com a gravidez depressiva que teve, Eva engravida novamente, mas dessa vez dá a luz a uma menina doce e simpática, Celia. Sua personalidade alegre contrasta com a de Kevin, que já adolescente, se torna ainda mais perverso e calculista, piorando a relação com a mãe.
Mais conhecido pelos seus papeis em filmes de comédia, John C. Reilley surpreende como Franklin, o pai da família, casando perfeitamente com a excelente atuação de Tilda Swinton. A interpretação sincera e comovente de ambos atores, combinada com a trilha sonora melancólica e as imagens tensas, com um tom frio, fazem que o expectador fique imerso em um ambiente depressivo, sendo capaz de sentir as mesmas emoções da protagonista. À medida que o desfecho final aparece, começamos a sentir Eva pouco a pouco despedaçar-se em infelicidade e culpa, destruindo assim seu casamento.
Foi por pouco que “Precisamos falar sobre Kevin” ficou de fora da disputa pelo Oscar. Porém, sua qualidade indiscutível dispensa prêmios, sustentando-se por si só. Lynne Ramsay fez um ótimo trabalho na adaptação do livro para as telas, e conseguiu não só cultivar os pontos mais importantes do livro, mais também prender o espectador a um trama lento. O roteiro, assim como a produção e as atuações excelentes, garantem um grande filme.
Veja o filme:
Texto: Lígia Franco
Orientação: Profa. Joana Dutra
Ta de parabéns, Lígia! Adorei o texto! o/