
A influência que os objetos podem exercer na personalidade e nas relações humanas foi um dos pontos destacados no Ciberdebates que ocorreu na manhã desta sexta-feira (25), abordando a Internet das Coisas. Temas como a vigilância, democracia, cidadania, política, ética, moral compõem o livro mais recente do professor e pesquisador de cibercultura André Lemos, chamado A comunicação das coisas – Teoria Ator-rede e Cibercultura.
Questionado sobre a influência que a internet pode ter sobre a personalidade do indivíduo, modificando-o diretamente, André Lemos pareceu muito convicto ao explanar que tudo interfere na formação das pessoas e a internet não poderia ficar de fora. “As pessoas estão sempre em construção, elas se formam através dos objetos”. Para ele, o indivíduo, em sua essência, não tem característica alguma; evidenciando um exemplo do evento mais simples e primeiro dos homens, que é o ato de nascer. “Somos colocados no mundo geralmente dentro de hospitais, recebendo vacina e cuidados higiênicos, tais ações deixam clara a inserção do homem em um ambiente fora de sua natureza. Humanos precisam construir para habitar”, ressaltou.
Lemos esclareceu que sujeito e objeto sempre serão híbridos e que os objetos atuam diretamente na formação das pessoas. Os objetos inteligentes passam a ganhar qualidades infocomunicacionais, interferindo nas relações e reações das pessoas de acordo com as respostas que as coisas transmitem, fazendo-se necessário compreender essas novas funções dos objetos que nos colocam em causa. Seja por meio de livros, filmes, programas de tevê ou internet, toda mídia irá preencher o imaginário dos indivíduos, contribuindo na construção da personalidade de cada um. “O problema não é o objeto, mas sim como as pessoas os utilizam e se relacionam. Toda ação está implicada na relação com o objeto”.

A Internet das Coisas
O tema principal do debate, A Internet das Coisas, implica na relação que os objetos tecnológicos passam a ter na vida das pessoas, de modo a influenciar nas ações, nas escolhas e nos sentimentos de cada indivíduo. Neste universo os objetos, conectados à rede, acabam interagindo com outros objetos e seres, respondendo de forma a se assemelhar a um organismo vivo, formando uma vida social entre humanos e não-humanos.
André Lemos defende que o termo Internet das Coisas e Internet de Todas as Coisas são os mais utilizados pela academia, por indústrias ou setores de tecnologia. Ele ressalta ser um posicionamento errôneo classificar a relação do homem com a internet como “Internet das Pessoas” ou “Internet dos Objetos”. Para ele, isto acaba restringindo a abrangente referência que o termo possui. O escritor acredita que todas as coisas são híbridas em se tratando do sujeito com o objeto, por isso não pode haver esse distanciamento, um influi no outro, modificando-o, involuntariamente.
Ele justificou a escolha pela nomenclatura Internet das Coisas como sendo a mais coerente a ser utilizada atualmente, tendo em vista as várias possibilidades de interpretações e consentimento das pessoas para com o seus objetos, que passam a considerá-los de formas diferentes, atribuindo valores distintos.
André Lemos explica o termo ainda no interior de uma nova fase da internet e de automatização das redes telemáticas interligadas a objetos que passam a se comportar de maneira autônoma.
Confira o podcast abaixo, com a cobertura completa do evento:
Texto: Giovânia de Alencar
Áudio: Bosco Barroso e Maurício Teófilo