
A Mostra Trajetórias, em exposição no Espaço Cultural Unifor até o dia 8 de dezembro, apresenta uma riqueza de conteúdo no que tange à arte brasileira. O Espaço contém exatas 271 obras dos mais variados artistas do século XX, como as de Candido Portinari, dentre elas a sua última obra produzida Índia Carajá (1962) e as dos artistas cearenses Chico da Silva e Heloísa Juaçaba, artista que esteve presente na inauguração da exposição.
Logo de início, o visitante tem a possibilidade de adentrar no universo da arte sem se fixar numa ordem temporal, fazendo com que a interação entre os artistas seja vista de forma livre, ou seja, mostra que as temáticas e as técnicas se interligam uma com outra e que, a partir disso, torna-se possível observar a influência que sustenta o tema abordado em cada sessão da exposição.
Seções são destaque na mostra

Uma das seções mais chamativas é a Fantasmática, que conta com as obras de Iberê Camargo, Oswado Goeldi, Flávio de Carvalho e Tarsila do Amaral. Como o nome já diz, essa seção choca o visitante por causa das cores escuras usadas nas telas, dando a impressão de mistério e obscuridade. Além disso, nessa parte do acervo, somam-se expostas esculturas e instalações, como as do artista plástico Tunga.

Outra seção que desperta a curiosidade é a do Neoconcretismo. Artistas como Abraham Palatnik e Sérvulo Esmeraldo representam o som de duas formas: pela visão e pela audição.
Nas obras de Abraham, o telespectador pode observar, na tela, imagens que representem a movimentação das ondas de som. Já na obra de Esmeraldo, pode-se ouvir o que a tela representa: o próprio som. Essa interação se torna curiosa, pois, por as obras estarem uma do lado da outra, o visitante pode ter, ao mesmo tempo, a percepção que os dois artistas quiseram passar.
Pode-se destacar, ainda, a seção do acervo Geometria Líquida. Esta sala contém um ambiente virtual que retrata a liquidez em seus diversos aspectos, como nas obras de Adriana Varejão. O trabalho da artista, desde o início, vem marcado pela presença de dois elementos recorrentes: o azulejo e a carne.
Mostra promove incentivo à arte

A mostra, além de conter mais de 250 obras em exposição aberta ao público, promove o incentivo à cultura. As escolas públicas da cidade de Fortaleza têm a oportunidade de conhecer a Trajetórias gratuitamente.
Com o intuito de inserir os alunos e fazer com que eles conheçam um pouco sobre a arte do seu país, o Espaço Cultural estimula a visitação. “Nós ligamos para as escolas públicas convidando os alunos e depois mandamos um ônibus da unifor pra pegar essas crianças, e elas vêm de graça. Nós servimos refrigerantes, e isso é um processo que estimula muito. Existe um estímulo que faz com que as pessoas de fora venham pra cá, que conheçam o acervo, tanto dessa exposição, como de todas as outras”, exclama Pamella Caula, mediadora do acervo e estudante do curso de Publicidade e Propaganda.
Além disso, a divulgação da exposição é feita de uma forma simples, mas eficiente, como as propagandas de TV e a panfletagem. “Existem as propagandas, no jornal, na tv, isso está na mídia. Além disso, existe, entre nós, um sistema de panfletagem. Quando as pessoas estão entrando na Unifor, a gente vai entregando os panfletos. Como experiência própria, eu já coloquei muita gente dentro do espaço com esse serviço. É uma forma de publicidade muito eficaz, uma abordagem direta”, acrescenta Pamella.
Curadoria

Um aspecto da Mostra Trajetórias que merece bastante destaque é a opção da curadoria por apresentar uma exposição dividida não de maneira tradicional, cronológica, mas com base em núcleos temáticos, tais como: Modernismo – com obras pautadas pela ruptura com a arte acadêmica e seus modelos europeizados; A Origem – repleta de obras ilustrativas do sincretismo cultural, religioso e étnico presente na construção da nacionalidade brasileira; Fantasmática – remetendo ao movimento das noitadas, mistérios das dançarinas e mulatas; e Concretismo – que prima pela interação da obra de arte com o ambiente e o expectador, como no caso das telas líricas com espelhos e madeira pintada de Ubi Bava, que a cada nova contemplação se reinventam com um novo reflexo.

Trata-se de uma opção inteligente e funcional por parte da curadoria, possibilitando fugir às dificuldades de classificação trazidas pela arte contemporânea e ao mesmo tempo tornando o trânsito do visitante pelas seções mais fluido, natural, devido à cuidadosa disposição das obras, que estabelece uma delicada transição entre os núcleos temáticos, evitando solavancos e, portanto, possibilitando uma fruição mais completa por parte do visitante.

Esse fator, além da riqueza e diversidade do acervo (que conta com esculturas, fotografias, esboços, instalações e até peças de design), torna esta exposição a oportunidade ideal para adquirir ou ampliar os conhecimentos sobre a arte brasileira e suas interrelações com o cenário histórico e cultural do Brasil.
Por fim, o acervo faz com que o público adquira familiaridade com a obra de artistas consagrados como Cândido Portinari, Victor Brecheret e Alfredo Volpi, ao lado de nomes contemporâneos como Vik Muniz, Beatriz Milhazes, Adriana Varejão e os irmãos Campana, fundamentais na construção e representação de nossa identidade contemporânea.
Texto: Lia Martins e Priscila Baima