[Retratos e Perfis] Do interior do Ceará para o mundo

Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal

Qual o tamanho do desafio que você pode aceitar? Para muitos essa pergunta vem acompanhada de medo e incerteza sobre a responsabilidade da temida missão a ser encarada. Para o educador físico Gláucio de Oliveira Castro, falecido em novembro de 2006, sua vida foi ilustrada de inúmeros desafios e superação.

Nascido no interior do estado do Ceará, na cidade de Morada Nova, Gláucio, filho caçula de Francisco Castro e Tereza Castro descobriu desde cedo a paixão pelo esporte e, como quase toda criança, o talento pelo futebol.

Definido por amigos e familiares como um cearense que nunca perdeu as origens, Gláucio fazia questão de levar o nome do Estado por todos os lugares do mundo que ele estava. O filho ilustre de Morada Nova teve que deixar sua terra natal na adolescência para estudar em Fortaleza.

Graduado em Educação Física pela Universidade de Fortaleza (Unifor), Gláucio foi jogador de futsal e defendeu clubes Sumov, Banfort, Trilhoteiro (RS), tendo passagem também pela Liga Espanhola de Futsal. No seu vasto currículo de títulos, o de campeão brasileiro juvenil na I Taça Brasil promovida pela Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) foi um dos mais marcantes da sua carreira. Como adulto, ele foi campeão brasileiro adulto jogando pelo Sumov, Banfort e seleção cearense.

Responsável por alavancar o futsal cearense no cenário nacional, Gláucio disputou o campeonato mundial de Futsal em 1988, na Austrália. Bom de bola e sempre buscando o aperfeiçoamento intelectual fora das quadras, o cearense de Morada Nova logo após encerrar sua carreira como jogador decidiu ser treinador de futsal.

O talento de Gláucio para comandar foi a grande marca da sua carreira. Técnico de vários clubes no Brasil, a sua competência para conquistar títulos ficou marcada nos estados do Ceará e Rio Grande do Sul, onde conquistou os respectivos títulos estaduais. Liderou times de grande visibilidade, como o Carlos Barbosa, o Minas Tênis Clube, Sumov e UCS.

Assumiu as seleções de base do Brasil e foi auxiliar técnico da principal ao lado de Fernando Ferreti. Sagrou-se bicampeão Sul Americano Sub-20 (2002 e 2004) e campeão do Mundialito Adulto, em 2002, na Itália, vencendo a seleção brasileira adulta na final por 3×1.

Em seus últimos anos de vida, além de treinador Gláucio ministrava cursos e palestras de capacitação em todo o país e até mesmo no exterior. Escreveu um livro sobre as relações de um técnico com as pessoas que constituem seu ambiente do trabalho, intitulado “Perfil de um Treinador no Mundo Globalizado”. Livro este contendo depoimentos de estrelas do esporte como o jogador Falcão, o técnico Fernando Ferreti e o técnico de voleibol Bernardinho. Iniciou outro trabalho sobre táticas e técnicas do futsal, que foi interrompido pela fatalidade de seu falecimento e segue inacabado.

Alçando novos vôos e aceitando desafios

A pergunta feita acima sobre qual o tamanho do desafio que você poderia aceitar foi respondida facilmente pelo professor Gláucio. Após receber o convite do Governo da Tailândia para implantar o Futsal no país, ele não teve medo do desafio e “simplesmente” aceitou. Novo país, nova cultura, novo idioma. Para alguns, isso poderia tornarem-se fatores determinantes para desistir, mas o filho de Morada Nova provou que é possível fazer asiático ser bom de bola e bom no futsal.

No primeiro ano do projeto na Tailândia, Gláucio ajudou o time a se classificar para o mundial e levou a Seleção Nacional da Tailândia a ser Campeã Asiática de Futsal.

Dizem por aí…

“Nos deixou nesta semana, mudando-se, por gosto de Deus, para sua morada no oriente eterno, abrindo uma enorme lacuna nos corações dos salonistas brasileiros e mundiais, já que reverenciado mundialmente pela sua lisura, capacidade, amizade e respeito aos compromissos que assumia. Todos reverenciaram a pessoa de Gláucio de Castro. Com 46 anos de vida e relevantes serviços prestados ao país, Gláucio de Castro merece, pelo menos, um muito obrigado por parte da Confederação Brasileira de Futsal.” – Carlos Bittencourt – Ex funcionário da Confederação Brasileira de Futsal

“É muito difícil ainda saber que o Glaucio não está conosco. Porém, nunca me esqueço dele, pois tenho diversas camisas que ele me deu e que são as mais bonitas” – Lúcio Bonfim – Ex secretário de esportes

“Meu carinho a você é a verdade presente, dentre os amigos que tive, embora por pouco tempo, o Gláucio foi amigo, parceiro, confidente e sonhador, aprendi com ele que a vida vale a pena e que o social não é apenas pra ser visto pela TV. Valeu Gláucio!” – Marcondes Rodrigues – amigo e companheiro do futsal

“A coluna hoje é dedicada a sua memória. Ele teve três paixões na vida: a família, a cidade Morada Nova e o futebol de salão. Como craque chegou à Seleção Brasileira e como técnico também, dirigindo a Seleção Sub 20. Foi ele o fundador e o criador do Curso de Formação de Novos Técnicos, que se iniciou no dia 9/12 passado e é em sua homenagem. Obstinado, teve nome internacional quando jogou na Espanha e foi treinador da seleção nacional da Tailândia. Professor de Educação Física, lançou um livro e jogou futsal no Rio Grande do Sul.”- Coluna do Silvio Carlos – Jogada – Diário do Nordeste, 13 de dezembro de 2010. Amigo, companheiro do futsal e presidente da Federação Cearense de Futebol de Salão

“Leal, solidário e extremamente humano, era de uma simplicidade que impressionava. Viveu a vida rindo e não guardou ódio de ninguém. Parecia um menino, tal a grandeza de caráter e a personalidade da educação forjada e alicerçada no amor aos pais Teresinha e Chico. Casado com Liliane de Castro, que continua na luta e coordena o curso que se realiza no FB.” – Coluna do Silvio Carlos – Jogada – Diário do Nordeste, 13 de dezembro de 2010. Amigo, companheiro do futsal e presidente da Federação Cearense de Futebol de Salão

“Falar do Gláucio me faz sentir sua presença. Conheci-o nos jogos universitários em Minas Gerais em 1982 e começamos uma paquera que logo se tornou um relacionamento de 23 anos. Sempre senti seu amor por mim e por nossa família. Ele foi uma pessoa carinhosa, paciente (também com 5 mulheres na sua vida, rs). Companheiro, espirituoso, desligado, relaxado. Profissionalmente, era dedicado a sua carreira, estudioso, positivo, vitorioso, zangado, tempestivo. Acho que o Gláucio não pertencia a este mundo. Possuía um carisma que nem ele sabia. Descobri o quanto ele era amado e respeitado pelas conversas e encontros que tive com pessoas depois de sua morte.” – Liliane Benício – esposa.

Texto: Luana Benício e João Bandeira Neto