
O filósofo e sociólogo alemão Jurgen Habermas esteve presente na manhã do dia 28 de outubro, na abertura da Conferência Internacional de Educação 2013, realizada em Lisboa (Portugal) pela Fundação Calouste Gulbenkian. Na oportunidade, Habermas destacou a importância do processo de democratização da Europa, a relação entre política x poder e iniciou sua fala destacando suas divergências com o uso da tecnologia: “Não possuo conta em rede social, uso apenas meu e-mail e filtro-o diariamente”.
Inserido na tradição da teoria crítica e do pragmatismo, Habermas seguiu seu discurso enfantizando que as esferas públicas nacionais estão cada vez mais interligadas a uma democracia comunicativa. “A democracia pode ser transnacionalizada, o que implica a uma tentativa de criação de uma comunidade tecnicamente plural”, e usou a União Europeia como exemplo: “todas as democracias são constituídas por um povo, um estado e direitos igualitários, mas desde que a relação entre política e poder começou a ser afetada pela crise a União Europeia passou a ser uma comunidade tecnicamente transnacionalizada”.
Por fim, o sociólogo afirma que a crise vivida na Europa teve seus benefícios: “A crise nos mostrou o quanto é difícil passar por um processo democrático, e isso nos mostrou o vínculo que existe entre este discurso e o da cidadania. De um modo geral, nós não perdemos democracia, nós ganhamos democracia”, concluiu.
Cearenses participam da conferência
Entre os diversos alunos, professores, intelectuais e profissionais de comunicação que estiveram na Conferência, foi expressiva a quantidade de cearenses presentes no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, como é o caso do jornalista e estudante de mestrado do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa Reginaldo Aguiar.

“Preciso destacar o privilégio de ter tido um breve contato com um dos principais teóricos contemporâneos da atualidade (Habermas). A grande lição se relaciona ao meu momento atual, em que optei por fazer um mestrado em Portugal. A palestra do professor Habermas trouxe luz a uma das questões mais controversas da atualidade, que é a formação das organizações transnacionais”, disse o jornalista que também destacou a importância do discurso pragmático de Habermas com a sua formação acadêmica: “A tese de Habermas ajuda a compreender melhor os desdobramentos dessa nova composição política mundial e as causas da crise que afeta a Europa e os EUA desde 2008. Foi uma grande experiência”, finalizou.
Conferência destaca o uso da leitura na era digital
Após três anos, a Fundação Calouste Gulbenkian retomou em 2013 a Conferência Internacional de Educação com o tema: “Os livros e a leitura: desafios da era digital”. O tema foi abordado na conferência deste ano num contexto dominado por um rápido desenvolvimento tecnológico que conduz a questionar o futuro do livro a partir das atuais práticas da leitura digital.
“A leitura é uma prática indissociável da atividade educativa desde os primórdios, por ter esta imensa relevância neste campo, trata-se da matéria que se inscreve no vasto campo educativo e por isso vai ser objeto pertinente de análise e discussão no âmbito da nossa conferência”, destaca o diretor do programa Gulbenkian Qualificação das Novas Gerações, Manuel Carmelo Rosa, responsável pela Conferência.
No decorrer do dia, outros intelectuais palestraram sobre a educação no Auditório da fundação, entre eles: Eduardo Paiva Raposo (Professor da Universidade da Califórnia), Luis Gonzalez Martin (diretor geral adjunto da Fundação German Sanchéz Ruipérez) e John Thompson (professor de Sociologia na Universidade de Campridge). O evento era gratuito e aberto para todos os públicos.
Texto: Manoel Cruz