Habermas é destaque na Conferência Internacional de Educação em Lisboa

Foto: Manoel Cruz
Foto: Manoel Cruz

O filósofo e sociólogo alemão Jurgen Habermas esteve presente na manhã do dia 28 de outubro, na abertura da Conferência Internacional de Educação 2013, realizada em Lisboa (Portugal) pela Fundação Calouste Gulbenkian. Na oportunidade, Habermas destacou a importância do processo de democratização da Europa, a relação entre política x poder e iniciou sua fala destacando suas divergências com o uso da tecnologia: “Não possuo conta em rede social, uso apenas meu e-mail e filtro-o diariamente”.

Inserido na tradição da teoria crítica e do pragmatismo, Habermas seguiu seu discurso enfantizando que as esferas públicas nacionais estão cada vez mais interligadas a uma democracia comunicativa. “A democracia pode ser transnacionalizada, o que implica a uma tentativa de criação de uma comunidade tecnicamente plural”, e usou a União Europeia como exemplo: “todas as democracias são constituídas por um povo, um estado e direitos igualitários, mas desde que a relação entre política e poder começou a ser afetada pela crise a União Europeia passou a ser uma comunidade tecnicamente transnacionalizada”.

Por fim, o sociólogo afirma que a crise vivida na Europa teve seus benefícios: “A crise nos mostrou o quanto é difícil passar por um processo democrático, e isso nos mostrou o vínculo que existe entre este discurso e o da cidadania. De um modo geral, nós não perdemos democracia, nós ganhamos democracia”, concluiu.

Cearenses participam da conferência

Entre os diversos alunos, professores, intelectuais e profissionais de comunicação que estiveram na Conferência, foi expressiva a quantidade de cearenses presentes no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, como é o caso do jornalista e estudante de mestrado do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa Reginaldo Aguiar.

Harbermas. Foto: Reprodução
Harbermas. Foto: Reprodução

“Preciso destacar o privilégio de ter tido um breve contato com um dos principais teóricos contemporâneos da atualidade (Habermas). A grande lição se relaciona ao meu momento atual, em que optei por fazer um mestrado em Portugal. A palestra do professor Habermas trouxe luz a uma das questões mais controversas da atualidade, que é a formação das organizações transnacionais”, disse o jornalista que também destacou a importância do discurso pragmático de Habermas com a sua formação acadêmica: “A tese de Habermas ajuda a compreender melhor os desdobramentos dessa nova composição política mundial e as causas da crise que afeta a Europa e os EUA desde 2008. Foi uma grande experiência”, finalizou.

Conferência destaca o uso da leitura na era digital

Após três anos, a Fundação Calouste Gulbenkian retomou em 2013 a Conferência Internacional de Educação com o tema: “Os livros e a leitura: desafios da era digital”. O tema foi  abordado na conferência deste ano num contexto dominado por um rápido desenvolvimento tecnológico que conduz a questionar o futuro do livro a partir das atuais práticas da leitura digital.

“A leitura é uma prática indissociável da atividade educativa desde os primórdios, por ter esta imensa relevância neste campo, trata-se da matéria que se inscreve no vasto campo educativo e por isso vai ser objeto pertinente de análise e discussão no âmbito da nossa conferência”, destaca o diretor do programa Gulbenkian Qualificação das Novas Gerações, Manuel Carmelo Rosa, responsável pela Conferência.

No decorrer do dia, outros intelectuais palestraram sobre a educação no Auditório da fundação, entre eles: Eduardo Paiva Raposo (Professor da Universidade da Califórnia), Luis Gonzalez Martin (diretor geral adjunto da Fundação German Sanchéz Ruipérez) e John Thompson (professor de Sociologia na Universidade de Campridge). O evento era gratuito e aberto para todos os públicos.

Texto: Manoel Cruz

É tempo de Praxe em Lisboa

Foto: Camila Teixeira
Foto: Camila Teixeira

A primeira semana de “aulas” nas universidades de Lisboa chegou ao fim juntamente com o período de praxes acadêmicas. Como manda a tradição portuguesa, todos os alunos matriculados pela primeira vez nas universidades são intitulados como bichos. Os calouros são alunos matriculados pela primeira vez e que participam da cerimônia do batismo, estes são praxados, se aceitarem participar.

Para que você entenda melhor, a praxe em Portugal equivale ao trote no Brasil, é um conjunto de práticas que visa à recepção e integração dos novos estudantes nas instituições, porém diferentemente do Brasil os estudantes veteranos portugueses que organizam e comandam as atividades utilizam uma vestimenta específica para estas cerimônias, o traje.

 Trata-se de um traje social na cor preta com blazer e saia na altura acima dos joelhos para as mulheres e calça para os homens. Debaixo do blazer faz-se o uso de camisas de botão brancas e gravatas pretas para ambos os sexos. Para os homens ainda há um colete social que compõe o traje. Por último, a capa preta comprida complementa o visual de todos os praxantes – veteranos da universidade que foram praxados quando iniciaram o seu período acadêmico e agora têm o direito de praxar os novos alunos.

Foto: Camila Teixeira
Foto: Camila Teixeira

Essa cultura não é tão simples como parece, são muitas regras dispostas no código de praxe, difícil resumir em poucas palavras todo o funcionamento desta tradição, mas é possível explicar de maneira geral como funciona todo o processo. Cada aluno veterano que foi praxado em seu ano tem o direito de fazer parte da comissão de praxe e aderir ao traje a partir do seu segundo ano de estudos. Dependendo do ano de cada veterano eles são nomeados de forma diferente, existem os mestres e os doutores. Cada curso tem a sua comissão de praxe e o seu presidente que é o responsável pela comissão – este detém a última palavra diante de conflitos ou debates.

Foto: Mariane Morales
Foto: Mariane Morales

Ao todo, são cinco dias de atividades. Os caloiros têm que obedecer os veteranos que exigem acções como: correr, deitar no chão, saltar, falar palavras e/ou frases ofensivas, cantar músicas representativas do curso – a maioria com palavreado sexual – e se os caloiros não realizam tais atividades são imediatamente atingidos por jatos de água disparados por armas de brinquedos além outras penalidades.

A principal delas chama-se encher, os calouros devem fazer flexões, abdominais ou saltos e o número de repetições é determinado pelos veteranos de acordo com o descumprimento das atividades. A brincadeira demonstra como objectivo a necessidade de respeito ao “superiores” mestres e doutores da praxe.

Foto: Camila Teixeira
Foto: Camila Teixeira

Os calouros são tratados como soldados de uma tropa militar, mas no fim, apesar de todo o cansaço, eles resistem e acabam se divertindo para que possam praxar nos anos seguintes. Poucos sãos os que choram e desistem das brincadeiras por não se sentirem bem com as humilhações.

 No Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa os caloiros ainda tiveram a oportunidade de se divertirem e participar de disputas em brinquedos infláveis como touro mecânico e pebolin gigante. Bebidas e a famosa bifana também foram servidos a preços acessíveis. Um porco inteiro foi assado no pátio e as bifanas do leitão eram servidas com pão, um dos principais acompanhamentos da maioria das refeições em Portugal. Ainda teve dança e músicas típicas da região.

Foto: Camila Teixeira
Foto: Camila Teixeira

No penúltimo dia de praxe, os caloiros foram separados em grupos e participaram do chamado Rally Tascas, uma caminhada com diversas paradas onde eles experimentavam doses de bebidas. Uma forma divertida de conhecer os arredores da universidade, as bebidas típicas, além de amenizar os “sofrimentos” causados durante toda a semana.

Texto: Mariane Morales