[Retratos e Perfis] Maísa Vasconcelos: uma comunicadora por excelência

 

Maísa é conhecida por sua imagem de mulher firme e decidida. Foto: Divulgação
Maísa é conhecida por sua imagem de mulher firme e decidida. Foto: Divulgação

“Mulher sempre muito determinada e inteligente, tímida, de poucos amigos, como é muito reservada às vezes parecendo até antipática, não é popular, não é farrista, de poucos namorados”. Mailma de Sousa, irmã

Impulsiva de constantes sobrancelhas elevadas ao ser contrariada, porém sempre carregando um vasto sorriso, assim se constitui Maísa em suas peculiaridades e traços faciais. Jornalista, mandona, radialista, decidida, apresentadora de TV, mulher de personalidade forte. Do interior de Itapipoca (Matinhas) amparada pelas tradições do lugarejo cearense migrou com a família para Fortaleza logo ao completar um ano de idade. A cidade que a acolheu e lhe mostrou caminhos que apontavam para a comunicação.

“E a Maísa sempre foi a mandona, a coordenadora da guanguesinha. E quando as coisas não davam certo, a gente apanhava (e todos tinham que apanhar, era a lei lá em casa), a Maísa era como se fosse nossa líder”. Mailma de Sousa, irmã.

Desde 1989, atua em Rádio e Televisão. Durante dezesseis anos esteve à frente do programa Na Boca do Povo, da TV Jangadeiro, afiliada do SBT no Ceará. Antes, foi apresentadora de telejornal e de programas culturais na TVE, hoje TVC. Em rádio, trabalhou na Pajeú FM e, em seguida na Casablanca FM. Mais recentemente, editou o caderno “Viver”, sobre saúde e bem-estar, para o jornal O ESTADO. Blogueira desde 2002, edita o blog “Maísa na Blogosfera” e é atuante nas redes sociais . Fez parte do time de apresentadores da TV Jangadeiro, da TV Diário, e agora está na Nordeste TV.

maisa 2Ao perguntarmos sobre seu nascimento, Maísa sorri e com grande entusiasmo diz que nasceu em Matinhas, em Itapipoca, lugarejo muito tranqüilo e de clima bem quente. “Era de rachar aquele sol (…)”.

Dizem que você é mandona desde criança. Você é mesmo? Lembra de algum fato que possa mostrar isso?

Ah, eu não acredito que ela me entregou [ sorrindo]. Sim, é verdade sempre fui meio mandona mesmo. Eu era como se fosse a coordenadora da ‘ganguesinha’. E quando as coisas não davam certo, a gente apanhava e todos tinham que apanhar era a lei lá em casa e eu, mesmo sendo como se fosse a líder de meus irmãos, também sobrava pra mim. Apanhava também.

Como foi a infância com a família?

A gente não podia brincar na rua porque nossos pais não deixavam, éramos sete irmãos, quatro mulheres e três homens. Eu era a segunda mais velha. Brincávamos mais no quintal de fazer guisado, brincava de casa e do que tinha. Não gostava de brincar de bonecas, preferia brincadeiras de meninos como: pião, bila – era meio menino mesmo -, ‘três-três-passará’, pega-pega e um pouco maior brincava de escritório.

Falta de tempo para a família?

Realmente mau tenho tempo para ficar com a família. Trabalho a semana toda e, como não gosto de acordar cedo, apesar de trabalhar pela manhã, nos finais de semana só acordo depois do meio dia [Diz, com os olhos cheios de lágrimas].

E o primeiro neto?

Foi muito engraçado quando eu fiquei sabendo que ia ser avó [respira fundo].

Soube que ia ser avó no dia do meu aniversário, quando já estava me preparando para virar mochileira. Quando meu filho chegou com a namorada, uma mocinha pequena, de olhar tímido, de cabeça baixa e disse: ‘ mãe tenho uma coisa para te dizer”. Quando ele falou isso, desabei no choro. Meu coração já me dizia que se repetia o que há tempos atrás havia acontecido comigo: ela estava grávida. Meu filho ia ser pai… Passei três dias trancados no quarto chorando e, quando sai, já fui logo chamando a moça para vir morar conosco.

O Caio hoje já está com quatro anos e ele é muito grudado em mim. Certa vez ele falou uma pérola que nunca mais esqueci: “Vovó peixes não tem pálpebras, e ainda dormem”

E como era na época de estudante?

Sempre estudei com minha irmã Mailma, mesmo ela sendo mais velha. Eu era morena e ela era loira. Lembro-me que, quando eu já estava no colégio, várias foram as vezes que minha mãe me deixou junto a Mailma na sala de aula dela. Eu era muito nova e não tinha idade para estudar ainda, mas como meus pais não tinham onde me deixar ficava lá com ela. Certa vez a professora fez um pergunta na sala e só eu soube responder, desde esse dia a professora disse que meus pais já poderiam me matricular na escola, porque mesmo eu sendo ainda muito nova já entendia e acompanhava todo o assunto escolar com naturalidade.

Como era a sua relação com seus irmãos?

Éramos inseparáveis, eu e a Mailma, principalmente, muitos achavam até que éramos gêmeas, nossos pais costumavam vestir todos nós de forma parecida. Agora com meus outros irmãos tínhamos alguns probleminhas, porque como eu sempre tive um gênio muito forte e minha opinião é que tinha que prevalecer sempre, discutíamos por muitas vezes, mas era coisa momentânea logo fazíamos as pazes. Sempre fui uma aluna de boas notas, sendo que nunca gostei de estudar quando estava em casa, gostava de prestar a atenção nas aulas e só tirava notas altíssimas. Inclusive teve uma vez que cinco de nós pegamos sarampo e eu, mesmo doente, fingi estar boa para poder ir para o colégio, simplesmente adorava ir para a escola.

Na adolescência, ocorreu algum fato que você tenha ficado desnorteada?

Sim, quando completei 18 anos descobri que estava grávida e o pai da criança, meu namorado, tinha 15 anos. Foi um escândalo na cidade, tanto por minha família ser muito rígida e tradicional como também porque a mãe do meu namorado o expulsou de casa e me acusava de ter seduzido ele, porque eu já era maior de idade e ele ainda era um adolescente. Costumo dizer que namorava sentada no passado e as pessoas sempre pedem para eu explicar. Aí eu explico: porque meu pai ficava ouvindo tudo, se rolasse uns beijos mais barulhentos ele já ia lá acabar com isso. A gravidez, e tudo isso, foi muito decepcionante para meus pais que tinham em mim a pessoa mais responsável da família.

E como lidou com a decepção que os pais sentiram de você, sua mãe Idinha?

Foi bem difícil, porque a mamãe logo disse: você que sabia tudo do mundo, você não sabia como evitar a gravidez? Além do que, como eu não quis casar, piorou ainda mais tudo.

A Maísa como Universitária, como era?

Eu fiz Arquitetura, praticamente morava no pátio da Arquitetura, saia 6h30 voltava 22h. O Falcão (cantor) ficava de babá do meu filho na cantina da faculdade e, como foi ficando pesado pra mim, em 1985 acabei abandonando o curso de Arquitetura. Mesmo lá na Arquitetura já participava de movimentos estudantis, nunca fiz parte de partido político porque tinha medo da repressão. Era “Prestista”, seguia Luis Carlos Prestes, embora não fosse do partido. Tinha visão pragmática diferente das outras pessoas. Sempre frequentei Congressos, palestras, estive presente na invasão da UFC dentro do cordão de frente de isolamento e foi daí que vi que tinha tudo haver com a Comunicação.

E como é a Maísa profissional?

Sou radialista de formação, fiz curso no Sindicato dos Radialistas, inclusive, na época, já estava casada pela segunda vez e trabalhando com produção (eventos). Era uma época muito rica em Fortaleza, era na época da Prefeitura da Maria Luisa, tinha uma secretaria muito forte e, devido a isso, também apareciam bastantes eventos muito legais pela Gama Produção. Fazia trabalho de assessoria, montava a pasta da empresa com releases, fotos incríveis, convites para show, cartazes e os LP’s e deixava depois nas redações. A Rádio Pajeú FM foi meu primeiro trabalho, e só depois que apareceu a televisão na minha vida, primeiro com campanhas publicitárias para o Romcy e depois como apresentadora de televisão.

Segunda- feira?

[Maísa, ao ouvir a pergunta capciosa não se conteve e teve uma crise de risos]. Gente, mas como é que vocês souberam disso… Foi o seguinte, logo quando eu comecei a trabalhar na Jangadeiro como apresentadora, o meu chefe, toda segunda-feira me perguntava: e aí, moça, como estava o ônibus? E eu respondia a ele, sem entender direito: Ah… Lotado, como sempre. Aí, depois de mais ou menos três semanas de trabalho, descobri o porquê da pergunta dele. Em um belo dia, quando estava na parada, as pessoas começaram a me olhar e sempre tinha alguém que ficava imitando um comediante gritando o meu nome com bastante sotaque cearense… O meu chefe, na realidade, queria saber quando que eu iria começar a ser reconhecida pelo público.

Você acha que mudou muito depois de virar apresentadora de televisão?

Não, continuo sendo a mesma ‘cunha’ de sempre, humilde, aventureira, de poucos amigos e brincalhona. Nada mudou no meu jeito, apenas aumentaram os conhecimentos na minha área de trabalho.

E como você se sintetiza na fase adulta, mãe?

Como mãe sempre tive um bom relacionamento com meus filhos (o mais velho é jornalista e com o segundo – do segundo casamento-, ainda faz o terceiro ano), na adolescência não queria ter filhos, mas quando eu tive, vi como é bom ser mãe.

Maísa você não segue a risca os mandamentos da Igreja Católica. Qual o seu posicionamento sobre o casamento?

Sempre fui muito segura e nem com o primeiro namorado (pai do filho mais velho), onde tive quatro anos de relacionamento, nem com o segundo namorado (pai do caçula), que durou onze anos, me casei. O casamento para mim não tem muita importância, o que importa é o encontro das almas, é o ficar junto.

Como encarou a morte de seu segundo marido, que ocorreu de uma forma tão prematura?

Fiquei arrasada, cheguei a me arrepender de não ter se casado na igreja com ele, como várias vezes ele havia pedido. Até hoje sinto o vazio que ele deixou e não pretendo mais me envolver sério com ninguém.

A idade chegando?

Olha eu sou uma mulher de pouca vaidade, só me maqueio mesmo quando vou entrar no ar. Normalmente prefiro sair sem nada no rosto apenas um brilho labial. Não pretendo fazer plásticas porque, para mim, todos os traços que tenho em meu rosto fazem parte da minha história e, se modificá-los, seria como apagar uma parte dela. A gente sabe que, para se manter na TV, é necessário rostinho lisinho, bonitinho. Mas já falei: quando começarem a exigir que mude meu rosto com botox ou outros artifícios, nesse dia, sairei da TV.

Resuma Maísa Vasconcelos, como um todo.

Eu sou uma mulher muito determinada, meio tímida, esquisita mesmo. Apesar de fazer televisão, tenho poucos amigos e não gosto de sair para ambientes muito badalados. Sou bem caseira mesmo, os namorados foram poucos, só tive dois relacionamentos durante toda minha vida, sou bem família. Moro na Cidade 2000 e mau conheço o vizinho do lado. Sério mesmo… sou desse jeitinho…

O que você faria novamente se pudesse?

Faria muita coisa diferente, tentaria ter mais direcionamento na vida, mais foco, teria começado mais cedo no jornalismo, isso na parte profissional. Na vida pessoal, com certeza, teria sido mais inteira nas relações, teria tentado evitar a morte por enfarte do meu marido, observando os sinais que o corpo dele dava, mas acho que, mesmo assim, vivo com uma certa tranqüilidade e sou feliz… Então, como não dá mais para voltar atrás, prefiro seguir e tentar não errar mais como antes.

Ouça o documentário Primeira Pessoa,produzido pelo estudante de Jornalismo João Neto, em que Maísa Vasconcelos conta sua história.

Texto: Elisane Vasconcellos M. dos Santos