O dia escolhido para o Índio

Tapebas. Foto: Muvic
Tapebas. Foto: Muvic

O Dia do Índio foi criado a partir do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano que aconteceu no México, em 1940. Os índios não compareceram nos primeiros dias do evento, pois ficaram temerosos. Após algumas reuniões, no dia 19 de abril diversos líderes indígenas aderiram. A data foi criada no Brasil em 1943.

Vale ressaltar que o temor deste povo não foi – e continua não sendo – gratuito. Para se ter ideia, por meio de documentos, a Comissão Nacional da Verdade apurou cerca de 2000 mortes infligidas aos índios, apenas no período da Ditadura Militar. Ou seja, aproximadamente de 1968 à 1983 – o que exclui tudo o que ocorreu nesse contexto, desde que Cabral e sua tripulação aqui aportaram.

Recuperando origens rompidas

Aldeia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Foto: Muvic
Aldeia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Foto: Muvic

Os genericamente chamados “índios” possuem tradições seculares e inúmeras vertentes étnicas. Apenas no Ceará, contam-se 14 diferentes etnias. Sobre algumas delas, há quem diga que nem se parecem com índios por se vestirem com roupas industrializadas e falarem em bom português.

Não haveria de ser diferente, afinal, com a invasão de cidades e latifúndios, sua cultura se fundiu à sociedade não-indígena. Mas a cultura indígena não foi extinta, e por isso, buscam manter e recuperar suas tradições culturais.

Pousada Jenipapo Kanindé. Fotos: Iago Soares
Pousada Jenipapo Kanindé. Fotos: Iago Soares

Um exemplo são os Tapebas, de Caucaia, que tiveram maior contato com o “homem branco” e  redução da terra onde viviam. Ainda hoje está em discussão o processo de reconhecimento oficial do território indígena.

Há uma luta constante para manterem e recuperarem suas origens – como no caso dos Potiguaras, que estão tentam reaprender rituais e o Tupi-guarani.

Outro exemplo disso são os Jenipapo-Kanindé, que vivem em um espaço sagrado onde procuram guardar a memória de seu povo.

A última viagem de Orlando Villas Bôas.
A última viagem de Orlando Villas Bôas.

A causa indigenista também teve aliados não indígenas, como os irmãos Villas Boas, que contribuíram para a criação da reserva do Xingu.

Em prol da preservação da memória e história dos povos indígenas do Ceará, uma equipe de pesquisadores criou o Museu Virtual do Índio Cearense (MUVIC).

Confira a seguir, a entrevista com Virna Sehn, estudante e pesquisadora que faz parte do grupo.

Blog do Labjor – Como surgiu o Museu Virtual do Índio Cearense (MUVIC)? Com que objetivo?

Virna – O MUVIC surgiu com o objetivo de tornar acessível as pesquisas sobre as comunidades indígenas do nosso Estado, por meio de um portal na internet, uma vez que os jovens indígenas estão cada vez mais fazendo uso das tecnologias digitais em suas comunidades, sendo assim um instrumento importante de (re) construção das suas identidades.

O portal MUVIC além de um projeto inédito, destaca a importância do conhecimento sobre as nossas comunidades indígenas no processo de formação da cidadania, sendo divulgado em escolas públicas e particulares.

BL – Quem compõe a equipe que mantém e alimenta o Muvic?

Virna – O MUVIC é atualmente composto por uma equipe de pesquisadores ( seis alunos e três professores); desenvolvedores (G1000 – Grupo de Mídia Interativa da UNIFOR) e de parceiros (atualmente cinco sites e o grupo TEMINCE – Temática Indígena no Ceará).

BL – Como museu, como é composto seu acervo?

Virna – Por meio de pesquisas realizadas (ou em andamento); Enciclopédia com dados sobre as comunidade indígenas cearenses; Vídeos; Fotografias; desenhos; músicas; orações; relatos sociais e escritos; fórum e blog para discussão da temática e game educativo sobre os índios do Ceará( em construção).

BL – Como é a participação dos índios para o que há de conteúdo no museu (exemplo: por meio de entrevistas, permitindo filmagem de rituais, ou fotografia de artefatos)?

Virna – Sim, a colaboração é feita por meio de entrevistas, narrativas, documentários e fotografias.

BL – Eles têm acesso à internet?

Virna – Hoje em dia, grande parte das comunidades indígenas tem acesso a internet e principalmente os jovens se interessam em realizar pesquisas e estudos através desse meio de comunicação. Podemos observar um número crescente de jovens indígenas escritores, poetas e divulgadores de sua cultura.

Texto: Lia Sequeira e Manoela Cavalcanti