[Retratos e Perfis] Maísa Vasconcelos: uma comunicadora por excelência

 

Maísa é conhecida por sua imagem de mulher firme e decidida. Foto: Divulgação
Maísa é conhecida por sua imagem de mulher firme e decidida. Foto: Divulgação

“Mulher sempre muito determinada e inteligente, tímida, de poucos amigos, como é muito reservada às vezes parecendo até antipática, não é popular, não é farrista, de poucos namorados”. Mailma de Sousa, irmã

Impulsiva de constantes sobrancelhas elevadas ao ser contrariada, porém sempre carregando um vasto sorriso, assim se constitui Maísa em suas peculiaridades e traços faciais. Jornalista, mandona, radialista, decidida, apresentadora de TV, mulher de personalidade forte. Do interior de Itapipoca (Matinhas) amparada pelas tradições do lugarejo cearense migrou com a família para Fortaleza logo ao completar um ano de idade. A cidade que a acolheu e lhe mostrou caminhos que apontavam para a comunicação.

“E a Maísa sempre foi a mandona, a coordenadora da guanguesinha. E quando as coisas não davam certo, a gente apanhava (e todos tinham que apanhar, era a lei lá em casa), a Maísa era como se fosse nossa líder”. Mailma de Sousa, irmã.

Desde 1989, atua em Rádio e Televisão. Durante dezesseis anos esteve à frente do programa Na Boca do Povo, da TV Jangadeiro, afiliada do SBT no Ceará. Antes, foi apresentadora de telejornal e de programas culturais na TVE, hoje TVC. Em rádio, trabalhou na Pajeú FM e, em seguida na Casablanca FM. Mais recentemente, editou o caderno “Viver”, sobre saúde e bem-estar, para o jornal O ESTADO. Blogueira desde 2002, edita o blog “Maísa na Blogosfera” e é atuante nas redes sociais . Fez parte do time de apresentadores da TV Jangadeiro, da TV Diário, e agora está na Nordeste TV.

maisa 2Ao perguntarmos sobre seu nascimento, Maísa sorri e com grande entusiasmo diz que nasceu em Matinhas, em Itapipoca, lugarejo muito tranqüilo e de clima bem quente. “Era de rachar aquele sol (…)”.

Dizem que você é mandona desde criança. Você é mesmo? Lembra de algum fato que possa mostrar isso?

Ah, eu não acredito que ela me entregou [ sorrindo]. Sim, é verdade sempre fui meio mandona mesmo. Eu era como se fosse a coordenadora da ‘ganguesinha’. E quando as coisas não davam certo, a gente apanhava e todos tinham que apanhar era a lei lá em casa e eu, mesmo sendo como se fosse a líder de meus irmãos, também sobrava pra mim. Apanhava também.

Como foi a infância com a família?

A gente não podia brincar na rua porque nossos pais não deixavam, éramos sete irmãos, quatro mulheres e três homens. Eu era a segunda mais velha. Brincávamos mais no quintal de fazer guisado, brincava de casa e do que tinha. Não gostava de brincar de bonecas, preferia brincadeiras de meninos como: pião, bila – era meio menino mesmo -, ‘três-três-passará’, pega-pega e um pouco maior brincava de escritório.

Falta de tempo para a família?

Realmente mau tenho tempo para ficar com a família. Trabalho a semana toda e, como não gosto de acordar cedo, apesar de trabalhar pela manhã, nos finais de semana só acordo depois do meio dia [Diz, com os olhos cheios de lágrimas].

E o primeiro neto?

Foi muito engraçado quando eu fiquei sabendo que ia ser avó [respira fundo].

Soube que ia ser avó no dia do meu aniversário, quando já estava me preparando para virar mochileira. Quando meu filho chegou com a namorada, uma mocinha pequena, de olhar tímido, de cabeça baixa e disse: ‘ mãe tenho uma coisa para te dizer”. Quando ele falou isso, desabei no choro. Meu coração já me dizia que se repetia o que há tempos atrás havia acontecido comigo: ela estava grávida. Meu filho ia ser pai… Passei três dias trancados no quarto chorando e, quando sai, já fui logo chamando a moça para vir morar conosco.

O Caio hoje já está com quatro anos e ele é muito grudado em mim. Certa vez ele falou uma pérola que nunca mais esqueci: “Vovó peixes não tem pálpebras, e ainda dormem”

E como era na época de estudante?

Sempre estudei com minha irmã Mailma, mesmo ela sendo mais velha. Eu era morena e ela era loira. Lembro-me que, quando eu já estava no colégio, várias foram as vezes que minha mãe me deixou junto a Mailma na sala de aula dela. Eu era muito nova e não tinha idade para estudar ainda, mas como meus pais não tinham onde me deixar ficava lá com ela. Certa vez a professora fez um pergunta na sala e só eu soube responder, desde esse dia a professora disse que meus pais já poderiam me matricular na escola, porque mesmo eu sendo ainda muito nova já entendia e acompanhava todo o assunto escolar com naturalidade.

Como era a sua relação com seus irmãos?

Éramos inseparáveis, eu e a Mailma, principalmente, muitos achavam até que éramos gêmeas, nossos pais costumavam vestir todos nós de forma parecida. Agora com meus outros irmãos tínhamos alguns probleminhas, porque como eu sempre tive um gênio muito forte e minha opinião é que tinha que prevalecer sempre, discutíamos por muitas vezes, mas era coisa momentânea logo fazíamos as pazes. Sempre fui uma aluna de boas notas, sendo que nunca gostei de estudar quando estava em casa, gostava de prestar a atenção nas aulas e só tirava notas altíssimas. Inclusive teve uma vez que cinco de nós pegamos sarampo e eu, mesmo doente, fingi estar boa para poder ir para o colégio, simplesmente adorava ir para a escola.

Na adolescência, ocorreu algum fato que você tenha ficado desnorteada?

Sim, quando completei 18 anos descobri que estava grávida e o pai da criança, meu namorado, tinha 15 anos. Foi um escândalo na cidade, tanto por minha família ser muito rígida e tradicional como também porque a mãe do meu namorado o expulsou de casa e me acusava de ter seduzido ele, porque eu já era maior de idade e ele ainda era um adolescente. Costumo dizer que namorava sentada no passado e as pessoas sempre pedem para eu explicar. Aí eu explico: porque meu pai ficava ouvindo tudo, se rolasse uns beijos mais barulhentos ele já ia lá acabar com isso. A gravidez, e tudo isso, foi muito decepcionante para meus pais que tinham em mim a pessoa mais responsável da família.

E como lidou com a decepção que os pais sentiram de você, sua mãe Idinha?

Foi bem difícil, porque a mamãe logo disse: você que sabia tudo do mundo, você não sabia como evitar a gravidez? Além do que, como eu não quis casar, piorou ainda mais tudo.

A Maísa como Universitária, como era?

Eu fiz Arquitetura, praticamente morava no pátio da Arquitetura, saia 6h30 voltava 22h. O Falcão (cantor) ficava de babá do meu filho na cantina da faculdade e, como foi ficando pesado pra mim, em 1985 acabei abandonando o curso de Arquitetura. Mesmo lá na Arquitetura já participava de movimentos estudantis, nunca fiz parte de partido político porque tinha medo da repressão. Era “Prestista”, seguia Luis Carlos Prestes, embora não fosse do partido. Tinha visão pragmática diferente das outras pessoas. Sempre frequentei Congressos, palestras, estive presente na invasão da UFC dentro do cordão de frente de isolamento e foi daí que vi que tinha tudo haver com a Comunicação.

E como é a Maísa profissional?

Sou radialista de formação, fiz curso no Sindicato dos Radialistas, inclusive, na época, já estava casada pela segunda vez e trabalhando com produção (eventos). Era uma época muito rica em Fortaleza, era na época da Prefeitura da Maria Luisa, tinha uma secretaria muito forte e, devido a isso, também apareciam bastantes eventos muito legais pela Gama Produção. Fazia trabalho de assessoria, montava a pasta da empresa com releases, fotos incríveis, convites para show, cartazes e os LP’s e deixava depois nas redações. A Rádio Pajeú FM foi meu primeiro trabalho, e só depois que apareceu a televisão na minha vida, primeiro com campanhas publicitárias para o Romcy e depois como apresentadora de televisão.

Segunda- feira?

[Maísa, ao ouvir a pergunta capciosa não se conteve e teve uma crise de risos]. Gente, mas como é que vocês souberam disso… Foi o seguinte, logo quando eu comecei a trabalhar na Jangadeiro como apresentadora, o meu chefe, toda segunda-feira me perguntava: e aí, moça, como estava o ônibus? E eu respondia a ele, sem entender direito: Ah… Lotado, como sempre. Aí, depois de mais ou menos três semanas de trabalho, descobri o porquê da pergunta dele. Em um belo dia, quando estava na parada, as pessoas começaram a me olhar e sempre tinha alguém que ficava imitando um comediante gritando o meu nome com bastante sotaque cearense… O meu chefe, na realidade, queria saber quando que eu iria começar a ser reconhecida pelo público.

Você acha que mudou muito depois de virar apresentadora de televisão?

Não, continuo sendo a mesma ‘cunha’ de sempre, humilde, aventureira, de poucos amigos e brincalhona. Nada mudou no meu jeito, apenas aumentaram os conhecimentos na minha área de trabalho.

E como você se sintetiza na fase adulta, mãe?

Como mãe sempre tive um bom relacionamento com meus filhos (o mais velho é jornalista e com o segundo – do segundo casamento-, ainda faz o terceiro ano), na adolescência não queria ter filhos, mas quando eu tive, vi como é bom ser mãe.

Maísa você não segue a risca os mandamentos da Igreja Católica. Qual o seu posicionamento sobre o casamento?

Sempre fui muito segura e nem com o primeiro namorado (pai do filho mais velho), onde tive quatro anos de relacionamento, nem com o segundo namorado (pai do caçula), que durou onze anos, me casei. O casamento para mim não tem muita importância, o que importa é o encontro das almas, é o ficar junto.

Como encarou a morte de seu segundo marido, que ocorreu de uma forma tão prematura?

Fiquei arrasada, cheguei a me arrepender de não ter se casado na igreja com ele, como várias vezes ele havia pedido. Até hoje sinto o vazio que ele deixou e não pretendo mais me envolver sério com ninguém.

A idade chegando?

Olha eu sou uma mulher de pouca vaidade, só me maqueio mesmo quando vou entrar no ar. Normalmente prefiro sair sem nada no rosto apenas um brilho labial. Não pretendo fazer plásticas porque, para mim, todos os traços que tenho em meu rosto fazem parte da minha história e, se modificá-los, seria como apagar uma parte dela. A gente sabe que, para se manter na TV, é necessário rostinho lisinho, bonitinho. Mas já falei: quando começarem a exigir que mude meu rosto com botox ou outros artifícios, nesse dia, sairei da TV.

Resuma Maísa Vasconcelos, como um todo.

Eu sou uma mulher muito determinada, meio tímida, esquisita mesmo. Apesar de fazer televisão, tenho poucos amigos e não gosto de sair para ambientes muito badalados. Sou bem caseira mesmo, os namorados foram poucos, só tive dois relacionamentos durante toda minha vida, sou bem família. Moro na Cidade 2000 e mau conheço o vizinho do lado. Sério mesmo… sou desse jeitinho…

O que você faria novamente se pudesse?

Faria muita coisa diferente, tentaria ter mais direcionamento na vida, mais foco, teria começado mais cedo no jornalismo, isso na parte profissional. Na vida pessoal, com certeza, teria sido mais inteira nas relações, teria tentado evitar a morte por enfarte do meu marido, observando os sinais que o corpo dele dava, mas acho que, mesmo assim, vivo com uma certa tranqüilidade e sou feliz… Então, como não dá mais para voltar atrás, prefiro seguir e tentar não errar mais como antes.

Ouça o documentário Primeira Pessoa,produzido pelo estudante de Jornalismo João Neto, em que Maísa Vasconcelos conta sua história.

Texto: Elisane Vasconcellos M. dos Santos

[Retratos e perfis] Em nome do padre: 38anos de perseverança e coragem no Ceará

padre-ferreirinhaNão foi nada fácil encontrá-lo pessoalmente. Gastamos alguns dias de paciência e disposição para, finalmente, conseguirmos uma entrevista (rápida, diga-se de passagem), com Manoel Ferreira. Padre Ferreira para uns, Ferreirinha para outros tantos.

O encontro aconteceu no dia 01 de novembro, às oito horas de uma manhã ensolarada, na Igreja Santa Edwiges, templo idealizado e construído por ele. Ferreira exigiu pontualidade. “Às oito e dez já não falo mais nada”.

Foram poucos os minutos, porém, bastante proveitosos. Como esperado, o pároco tinha muito o que contar, afinal, são 80 anos da história de um dos Padres mais influentes do estado do Ceará.

Enfim, entendemos sua suposta rispidez ao exigir nossa pontualidade. Pouco tempo nos direcionando exclusiva atenção foi o suficiente para abalar a tranquilidade do local. A atenção do pároco ficou dividida entre nós e as várias solicitações de pessoas da igreja.

Enfim, tivemos de nos render. Ao final do encontro, ainda cheias de perguntas, fomos obrigadas a respeitar sua pouca disponibilidade. Ficamos mais tranquilas quando ele disse “tem muita coisa sobre mim espalhada por ai, muita gente que me conhece. Já tem imagem minha, não tem? Então podem ir, vocês já tem o suficiente”.

História

Por conta dos vários desencontros que tivemos para conseguirmos algum depoimento do Padre Ferreirinha pessoalmente, acabamos acompanhando-o de longe, por telefone ou por relatos de terceiros, já que seus compromissos inadiáveis e de última hora sempre o proibiam de disponibilizar algum tempo para nós, mesmo quando combinávamos previamente.

Percebemos nele uma personalidade firme, cheia de disposição. Vê-lo pessoalmente só reiterou tudo isso. Um homem, que, apesar da longa e cansativa estrada já percorrida neste mundo, é vívido e cheio de planos.

Filho do Nordeste, nasceu em 23 de maio de 1932, num lugarejo chamado Baixias, no interior da Bahia. Uma região conhecida por judiar seus moradores, comumente vitimados por longos períodos de seca e escassez de alimentos. Porém, sempre abençoado por Deus, como ele mesmo costuma afirmar, foi criado em uma família precavida, que “visava o futuro”. Assim, nas terras de seus pais, José Coelho de Castro e Balbina Ferreira de Castro, havia um açude e um poço profundo, tesouros que garantiam à sua família uma vida menos atribulada e sofrida pela falta de chuva.

O menino Manoel viveu uma infância feliz. Em meio aos banhos de açude, corridas de cavalo de pau e passeios no lombo de jumentos, ele e seus 16 irmãos, sendo três deles adotivos, eram orientados a seguir a doutrina Cristã Católica. Aos finais de semana, rezavam o terço e ouviam trechos das Escrituras Sagradas da boca de seu pai. Uma vez por ano, seus pais o levavam para a famosa novena de Santa Filomena, num vilarejo próximo ao local onde morava. Essa rotina, para orgulho de seus pais, acabou formando dois padres, ele e seu irmão José, e duas irmãs salesianas, Donatila e Rosa.

Em 1949, Manoel Ferreira, já com 17 anos, deixa a casa dos pais para concluir o Curso Primário, na Capital. Muda-se para Recife (PE), para concluir o Ginasial. Estuda Filosofia em Natal (RN) e Teologia em São Paulo (SP), onde se ordena Diácono.

Em 1968, o destino faz com que Manoel Ferreira, já com 36 anos, retorne à sua região Natal, onde foi ordenado padre, na Catedral de Petrolina, em Pernambuco. Porém, é o Ceará o grande destino daquele jovem padre, que encontrou ali acolhida e o rebanho que Deus havia predestinado para receber dele seus conselhos e cuidados.

No Ceará, cursou as faculdades de Letras, Pedagogia e História, além de cursos de especialização e outras formações, que auxiliaram no seu desempenho como pároco. Na década de 70, quando já havia fincado raízes sólidas no Ceará, depara-se com aquilo que o ajudou a tornar-se um dos maiores nomes da fé católica no Estado. Por intermédio de Dom Aloísio Lorsheider, o então Arcebispo de Fortaleza, Padre Ferreirinha conhece a Igreja do Patrocínio.

O Templo abandonado

A Igreja do Patrocínio foi o primeiro local onde minha amiga e eu tentamos contato com Padre Ferreirinha. Tentativa frustrada, como já relatei. Marcamos com ele às três da tarde, mas ele não estava lá. Acabamos conversando com Leocádia, sobrinha e ajudante de Ferreirinha nos afazeres da igreja. Muito simpática, ela nos contou que o vigário teve um compromisso de última hora e que a “missa das três” seria celebrada por outro padre.

Localizada no Centro de Fortaleza, a Igreja do Patrocínio fica próximo à movimentada Praça José de Alencar, com vista privilegiada para o famoso Teatro que também recebe o nome do renomado escritor cearense. Atualmente, o templo é marca registrada no local, muito bem conservado, recebendo semanalmente centenas de fiéis que fazem questões ir até lá e ouvir os sermões do Padre Ferreirinha.

Uma realidade que em nada condiz com o estado desta mesma igreja na década de 70. Totalmente destruída física e religiosamente, o templo estava literalmente abandonado. Padre Ferreira então decide mudar a realidade do local, de uma forma não muito tradicional, mas que surtiu os efeitos que ele tanto desejava.

Para manter a ordem, Padre Ferreirinha acaba tomando decisões extremas. Assim como Jesus destruiu as tendas de vendilhões que comerciavam em frente ao templo sagrado em seu tempo, conforme relatado na Bíblia, Ferreira também encontra uma maneira de repelir todos aqueles que, de alguma forma, “dessacralizavam” a sua igreja. Um gradil foi instalado ao redor do templo e, munido com um revólver calibre 38, o pároco amedrontava. “Eu não ia atirar em ninguém, mas a arma impõe respeito. E a igreja tem que ser respeitada”, dizia.

Assim, Manoel Ferreira ganhou fama. Grande padre, grande líder e grande defensor. Como afirmou o Padre José Teles Arruda no ano de 1982, em entrevista ao jornal A Verdade, de Baturité, “até hoje, durante meus 51 anos de sacerdote, nunca encontrei uma paróquia tão bem organizada e à gosto dos fiéis como a Igreja do Patrocínio”.

Seu comportamento sério e destemido rendeu-lhe homenagens e condecorações. O sacerdote foi elogiado por Dom Aloísio, suas missas passaram a ser televisionadas e seus feitos espalharam-se por diversos jornais nordestinos. Em 1984, teve o privilégio de participar de um retiro mundial de sacerdotes, no Vaticano, com a presença do então Papa Paulo VI, onde apenas 350 párocos brasileiros tiveram a honra de estarem presentes.

Reformar igrejas abandonadas e assistir comunidades de risco e vulnerabilidade social tornou-se rotina para o Padre Ferreirinha. Criou creches, escolas profissionalizantes, cursos, salões de beleza. “A minha missão não é só pregar a palavra, mas cuidar dos pobres como fez Cristo”, salientava.

Talvez, para ele, todos esses grandes trabalhos ainda não satisfaziam seu ego e sua a boa vontade. Ideias de um projeto mais audacioso, de maior magnitude, começaram a se desenhar na mente de Ferreira. A ideia criou forma e chamou-se Igreja de Santa Edwiges.

Novo desafio

A igreja de Santa Edwiges, como já dito no começo desta narrativa, foi o local onde conseguimos, enfim, trocar algumas palavras com Padre Ferreirinha. Um local privilegiado por possuir uma belíssima vista para o mar e, como alguns costumam dizer, por ser administrada por um grande chefe.

Um homem, no mínimo, exemplo de persistência. Batalhou muito para concretizar a Igreja de Santa Edwiges, um de seus projetos mais desejados. Foram insistentes oito anos para conseguir um alvará que permitia a construção do templo, além das várias visitas à prefeitura de Fortaleza, nos anos em que Maria Luiza e Ciro Gomes geriam o município.

A igreja foi construída e, junto dela, o “Altar do Novo Milênio”, um espaço anexo da Igreja Santa Edwiges. “Um lugar maior, ambiente acolhedor, de muita interioridade e em profunda sintonia com a suave brisa que vem do oceano, reflexo da grandeza de Deus”, conforme Padre Ferreira deixou registrado em uma espécie de cartão-postal contendo a imagem do local.

Recentemente, foi construída uma imagem de Santa Edwiges ao lado da igreja, que gerou discussões e desentendimentos entre os fiéis e o Ministério Público Federal. A imagem foi acusada de ferir a nação laica, segundo Padre Ferreirinha. “Antes de destruir a minha estátua, destruam o Cristo Redentor”, completou.

Despedida

Enfim, a imagem continuará lá, intacta. Padre Ferreirinha não. No dia 31 de dezembro deste ano, ele dá adeus a suas atividades paroquiais nas duas igrejas que tanto amou e ajudou a edificar. Aos 80 anos, disse que precisa descansar e cuidar da saúde.

Muito querido e, também muito criticado. Ele afirma que já foi acusado de ter uma amante e de ser “beberrão”, “além de muitas pessoas me acusarem de ser proprietário de helicóptero e ter uma grande fazenda na cidade de Pacajus. Tudo isso foi desmentido pelo tempo”, disse.

Em comemoração ao seu 80° aniversário e em despedida oficial das paróquias, padre Ferreirinha realizou uma missa na Igreja de Santa Edwiges, no dia 23 de maio. Compareceram cerca de 100 bispos e padres, além de seus vários fiéis e seguidores.

Como 38 anos à frente da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio e 18 da Capela Santa Edwiges, Manoel Ferreira soube conduzir com maestria todas os desafios nos quais teve participação. Não haverá adeus nos corações daqueles que sempre irão lembrar de sua trajetória.
Padre Ferreirinha

De onde o senhor acredita ter vindo a vocação sacerdotal?

A vocação é de família. São dois padres e duas freiras, ou seja, a família já é vocacional. Saí de casa para estudar e me aprofundar e quando já ordenado vim aqui pro Ceará.

Como foi a primeira impressão que o senhor teve da Igreja do Patrocínio aqui no Ceará?

Era uma igreja abandonada, que nenhum padre queria. No centro da cidade e abandonada. Só tinha uma missa, às 17hrs. A igreja ficava fechada o dia todo.

O que o senhor acredita ter trazido de bom para a Igreja do Patrocínio?

As missas diárias. Nós passamos a ter dez missas diárias, coisa que não acontece em nenhum lugar do mundo. São 38 anos sendo pároco lá e nós damos a assistência que nenhuma outra igreja oferece. Muitas igrejas fecham nas segundas feiras. Eu nunca fechei a nossa, ela é sempre aberta, de domingo a domingo.

Como se deu a implantação da Capela de Santa Edwirges?

Santa Edwirges é um monumento que ninguém queria fazer pela oposição que tinha de todos os órgãos. A gente venceu todos esses órgãos e obstáculos e está aí o monumento. É um monumento para o mundo porque as pessoas se hospedam no Hotel Marina Park e vêm assistir à missa. São pessoas de todas as partes do mundo.

E como é o funcionamento da Capela de Santa Edwirges? Segue o exemplo da Igreja do Patrocínio?

Nós temos as missas nas quintas feiras, às 8hrs da manhã, às 16hrs e às 19hrs. Aos sábados a missa acontece às 13hrs e no domingo às 9h30m, às 11hrs, às 17h30m e às 19hrs, com mais de duas mil pessoas. Nenhuma igreja tem uma multidão dessa. Além disso, assim como a Igreja do Patrocínio, ela é aberta o dia todo. Quem chega, pode estacionar o carro e rezar.

Muitos julgaram o senhor pela sua atitude em defender a Igreja do Patrocínio com uma arma. O que o senhor tem a falar a respeito desse episódio?

Eu digo que vocês esqueceram que o criador foi salvar os judeus e matou todos os egípcios mergulhados no mar. O criador fez isso. Então para mim, a solução foi essa e deu jeito. A arma não era pra matar ninguém mas ela, por si mesma, impõe respeito. Hoje a Igreja é pacífica e os fiéis vão rezar sem medo. Hoje a Igreja é respeitada e a mais freqüentada de Fortaleza.

O senhor anunciou a sua despedida em breve. Alguma razão importante para a decisão de se aposentar?

Pela saúde, já estou com 80 anos. Desde os 75 anos é para eu entregar. Foram muitos anos sendo pároco das duas igrejas, já fiz, agora pronto. Vou cuidar da minha saúde para mais viver!

Texto: Raynna Benevides e Kamyla Lima.

[Retratos e Perfis] Um poeta trovador, Fauto Nilo

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

*Matéria produzida na disciplina de Oficina em Jornalismo

Compositor, cantor Fausto Nilo é natural de Quixeramobim (CE), muito ligado a família sempre participava de reuniões promovidas por seu avô.

“Nascido em Quixeramobim (CE), o poeta, letrista e arquiteto Fausto Nilo conhece música desde pequeno já que participava, ao lado dos sete irmãos, de reuniões promovidas por seu avô, seu Fausto, amigo do cego Aderaldo e de outros repentistas. Aos 11, mudou-se para Fortaleza e aos 20 anos ingressou na Faculdade de Arquitetura. Lá fez amizade com o cantor e compositor Fagner, primeiro a musicar um de seus poemas, e outros jovens compositores, como Rodger Rogério, Teti, Petrúcio Maia e Ricardo Bezerra, que passariam a ser conhecidos como o “Pessoal” do Ceará”.

Ligado a história e as tradições de sua cidade natal, várias foram as vezes que alertou ao governo estadual da necessidade de restauração da casa do líder religioso Antônio Conselheiro, onde inclusive sua família residiu, pois se encontra com bastantes rachaduras podendo cair a qualquer momento segundo sua experiência como arquiteto.

Homenageado em sua terra, pelo Hotel Veredas do Sertão com o título, “Quixeramobim canta Fausto Nilo”, ficou emocionado pela presença dos amigos da MPB John Robson e Azanias e pelos dois troféus recebidos por ele no final da homenagem.

“Fausto é uma pessoa muito bacana, simples, muito educado, honesto em suas opiniões e ações, etc. Lembro-me das estórias que ele contava sobre como fizera algumas músicas, muitas vezes completamente diferente do que a gente imagina…. Ajudou na direção artística de muitos discos e trabalhos de grandes artistas, muitas vezes anonimamente” Adelson Viana

Fausto Nilo, poeta trovador ou letrista?
Bem na realidade em determinada visão me converti uma prática de poesia trovadora, mesmo sendo particularmente letrista e foi justamente por ser um letrista que acredito ter encontrado com mais facilidade as palavras adequadas para as melodias que escrevo.

“Atressi cum La candela
Que si meteissa destrui
Per far clartat ad autrui,
Chan on plus trac gren martire
Per plazer de l’autra gen”.

Que podem ser traduzidos como:

“assim como a candeia
a si própria consome
para esclarecer gente alheia
canto fundo meu tormento
para o prazer de outra aldeia”.

Nomes como: Fernado Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Paulo César Pinheiro, Abel Silva, Capinam e Luiz Galvão se destacam como letristas. O que Fausto Nilo tem de diferente destes?

O que me diferencia deles acredito que seja minha versatilidade e impaciência
. “Casa tudo azul”
O disco “Casa tudo azul”, foi uma homenagem que fiz a casa que morei em Quixeramobim, ela tinha as paredes azuis, essa casa que também morou Antônio Conselheiro (Canudos) hoje tem as paredes amarelas para minha tristeza e precisa de uma restauração imediata. Lembro-me que meu pai havia feito uma construção, nos fundos dela, feita voltada para o rio Quixeramobim, a qual nos proporcionava uma linda visão do rio.

E em relação ao Canto Cisne?
Lembro que em 2003, eu falei para O Povo sobre o Canto Cisne, explicitei que ele não é somente uma característica de Raimundo Fagner, mas também do “Pessoal” do Ceará (álbum Beleza, 1980).

Fausto, você lembra alguma situação que vivenciou com algum amigo que você considera inesquecível?
Ah, lembro de sair da loja de Discos (Desafinados), com meu amigo Ruy Vasconcelos e ele me falar sobre a confecção do Beleza, álbum que eu estava trabalhando, na construção das letras e desenho da capa. Íamos pela Dom Luiz totalmente engarrafada. Ele estava do lado exterior da calçada e de minuto em minuto se atrevia a pisar na pista sempre desviando dos automóveis que passam muito próximos de seus pés, fazia isso quase que instintivamente acreditando na minha agilidade se desviar de obstáculos durante a caminhada, porém quando ele estava com os dois pés no asfalto pronto para atravessar senti u uma mão puxando em seu braço:
-Não faça isso- Eu lhes disse- é perigoso. Mesmo você sendo ainda jovem, de pouca idade eu que já tenho sessenta anos posso te dizer, te aconselhar com segurança no que digo. Resumindo, o que acontece é que quando ganhamos em idade perdemos em reflexo, então quando eu o vi naquela situação tive que puxá-lo, porque como o meu reflexo já está meio desgastado pelo tempo vi mais perigo naquela situação do que realmente oferecia em geral, porém mesmo assim prefiro ser precavido. Aí disse para ele para sempre andar pelas calças, mesmo que demore um pouco vale muito mais apena perder alguns minutos do que todos. Então aquele cuidado, com ele me fez muito bem e isso aliado a medida de espaço é mais uma de minhas características, adquirida por meus dois ofícios: o de arquiteto e o de letrista.

Resuma Fausto Nilo.
Digamos que sou uma pessoa ambientalista, que vai em direção aos seus objetivos de forma singular e numerosa ao mesmo tempo, tanto como arquiteto como também como um homem de uma permanente canção. Prodigioso em relação a suas memórias e conhecimentos sobre clubes de futebol (Vasco). Com fertilidade em suas canções misturando Laís Francesa com García Lorca (cantadores do sertão profundo). Um sonhador de pés no chão.

Amor Nas Estrelas
No alto de uma montanha existe um lago azul.
É lá que a lua se banha
Até amanhã de manhã me banha de luz
A solidão é um Saara que o firmamento seduz.
E o céu brilha na Guanabara
E sonha só fascinação
Teu olhar me diz
Vejo a lua dizendo pro sol: eu sou tua namorada
Em meu quarto crescente é você quem brilha e me reluz
Se você vai iluminar o Japão eu fico abandonada
Num pedaço qualquer de canção na voz dessa mulher
E o sol derramam um desejo do céu nessa cama azul
Um mel na tua boca e eu te beijamos
Até amanhã de manhã, me banha de luz!
E o sol derrama um desejo…

Texto: Marcello Mesquita

[Série] O que comer no Ano Novo

Dica de sobremesa: panna cotta brasiliana. Foto: Divulgação.
Dica de sobremesa: panna cotta brasiliana. Foto: Divulgação.

Para quem ainda está em dúvida sobre o que comer na noite de Réveillon, aqui vai a dica: existem diferentes receitas que variam de acordo com o local. Para quem irá passar a virada no litoral, a sugestão é pratos leves, como Bobó de Camarão ou o rápido Salmão com molho de açafrão. Para quem vai permanecer na cidade, a sugestão é um Gazpacho e o tradicional Cuscuz Paulista. Para a ceia campestre, a dica é uma torta de cogumelos. Para a sobremesa, aponta-se opções como a tarte tatin, torta francesa, tiramisu e uma Panna cotta brasiliana, com calda de cupuaçu.

Confira o vídeo de uma dessas receitas:

Texto: Juliana Teófilo

[Série] A origem do Reveillón

reveillon praia grande

Começamos hoje uma série de postagens preparatórias para o Réveillon. Curiosidades sobre festas em vários lugares do mundo; O que servir na ceia e um ensaio fotográfico preparado pelo Foto Nic com dicas sobre o que vestir. A matéria segue também enriquecida de sugestões da consultora Patrícia Porto.

Você sabia?

O Réveillon é uma das festas mais comemoradas em todo o mundo. Tal nome é uma derivação do verbo francês “réveiller”, que significa “despertar”. Mesmo sendo festejado em datas diferentes, o Ano Novo é o principal motivo para as pessoas tomarem para si o sentimento de renovação, na esperança que o ano seguinte seja melhor do que o anterior. Além disso, os fogos de artifícios buzinadas e apitos simbolizam espantar os maus espíritos, e a compra de novas vestimentas para serem usadas na última noite do ano é característica do espírito de renovação para o ano seguinte. No ocidente, a prática de comemorar a festa surgiu por meio de um decreto do governador romano Júlio César, em 46 a.C, no qual estabeleceu o dia 1º de janeiro como o dia do novo ano.

Texto: Priscila Baima